FORÇA ATEMPORAL | MITOLOGIA E ARTE NA COLEÇÃO EVA KLABIN

 

A Casa Museu Eva Klabin reúne um dos mais importantes acervos de arte clássica dos museus brasileiros, contando com mais de duas mil peças, que vão do Egito Antigo ao Impressionismo. A exposição virtual FORÇA ATEMPORAL | MITOLOGIA E ARTE NA COLEÇÃO EVA KLABIN se vale de um segmento dessa importante coleção para apresentar um tema recorrente e muito atraente na representação artística, que é o da mitologia greco-romana.

A mitologia greco-romana permeia grande parte da construção da sociedade ocidental e os mitos herdados da Antiguidade espelham a natureza humana e os ciclos da vida, sendo referências essenciais para a compreensão do ser humano e de suas emoções. Sobrevivem e se perpetuam nas mais diversas manifestações artísticas, bem como na vida cotidiana.

Essa exposição virtual busca compartilhar com o público, neste momento em que o museu está temporariamente fechado à visitação, um pouco mais dessa fabulosa coleção, a partir desse recorte temático que evidencia a contribuição da mitologia greco-romana para a constituição do pensamento e da arte ocidentais. Esses mitos e símbolos atemporais são apresentados a partir de obras de grande qualidade artística, existentes no acervo da Casa Museu.

A exposição reúne pinturas de mestres italianos e holandeses dos séculos XVII e XVIII, esculturas da Grécia Antiga e do Renascimento, esmaltes de Limoges, além de objetos de arte decorativa nos quais há a representação de personagens e temas da mitologia. A partir desses objetos, queremos trazer para o nosso público o fascinante mundo da mitologia como fonte de inspiração da arte nas suas mais diferentes expressões, da ciência e da comunicação, capaz de ampliar os horizontes da compreensão do comportamento humano e inspirar a imaginação criativa, como tem ocorrido ao longo dos séculos.

OS PERSONAGENS

Netuno, (Poseidon para os gregos) era a principal divindade associada com os mares. Portava um tridente de ouro como símbolo do seu domínio sobre os oceanos. Com ele, Netuno poderia acalmar as águas e dissipar as tempestades. Anfitrite, esposa de Netuno, era filha de Nereu e Dóris, divindades aquáticas primordiais que deram origem às nereidas, ninfas dos oceanos.

O CASAMENTO DE NETUNO E ANFITRITE

Certa vez, quando se divertia com suas companheiras foi vista por Netuno que, maravilhado pela sua deslumbrante beleza, tentou raptá-la, mas ela se recusou a unir-se ao deus, escapou e refugiou-se nas profundezas do oceano, em um lugar onde só sua mãe, Dóris, sabia onde estava. O deus dos oceanos não desistiu de sua paixão e continuou com suas investidas. Mandou um delfim procurá-la e ela foi encontrada ao pé do monte Atlas e, convencida, ela cedeu e casou com Netuno, que a tornou rainha dos oceanos. Dessa feliz união, nasceu um rebento de corpo de homem e cauda de peixe,Tritão, que se tornou mensageiro e zeloso servidor dos pais, e com sua música produzida com búzios como instrumento, apaziguava a agitação dos mares para que a carruagem paterna pudesse percorrer em segurança seus domínios.

A imagem de Netuto e Anfitrite, como divindades aquáticas, servem de adorno para diversas fontes e chafarizes públicos, especialmente na França, onde o príncipe-herdeiro era chamado de Delfim, a montaria de Netuno.

O MITO NA CASA MUSEU EVA KLABIN

Cena mitológica no fundo do mar. No centro, empunhando o tridente, Netuno com um manto esvoaçante vermelho abraça Anfitrite, ambos rodeados de numerosos personagens, animais e monstros marinhos.

NETUNO E ANFITRITE
Hendrik Van Balen (1575-1632)
Flandres, séc. XVII
óleo sobre cobre, 38 x 51 cm.

O PERSONAGEM

O deus Apolo é o mais belo e um dos mais poderosos de todo o Olimpo. Filho de Zeus, o deus supremo da mitologia grega, Apolo é o deus do Sol, e por isso também é o deus do calor e da claridade. Na qualidade ainda de deus da beleza, ele é o patrono das artes: da música, da pintura e da poesia. É o deus do canto e da lira, instrumento musical que lhe serve de símbolo.

Como deus do Sol, atribuía-se a ele a germinação da terra e a proteção das atividades agrícolas. Na Antiguidade, em algumas regiões da Grécia, as primeiras colheitas eram consagradas a ele. É também conhecido como deus pastoral, cuja tarefa é proteger os rebanhos.

As primeiras referências literárias a Apolo se encontram em Homero, na própria fundação da literatura grega. E, neste momento, o deus já aparecia tão carregado de atributos que o poeta considerava difícil escolher por onde começar seu elogio. Apolo é citado na Odisseia, é o foco de um dos Hinos Homéricos, e é um dos deuses protagonistas na Ilíada, e dessas fontes provêm as primeiras descrições de sua história.

A CABEÇA DE APOLO DA CASA MUSEU EVA KLABIN

O fragmento de estátua da Casa Museu Eva Klabin é identificado como sendo a representação do rosto de Apolo. O estado de conservação da obra permite apenas perceber uma sombra dessa síntese única entre o elemento ideal, abstrato, no volume sólido e na proporção da cabeça que devia governar as proporções do todo, e o naturalismo da execução, que traduz a maciez e a sensualidade da pele juvenil, quase feminina, através do controle da passagem da luz nas superfícies. As esculturas gregas executadas em mármore eram frequentemente pintadas e destinadas a ornamentar a arquitetura dos templos: o fragmento da coleção Eva Klabin possui um encaixe na parte superior do crânio que faz pensar que pudesse servir de apoio para uma cornija ou um entablamento. No entanto, os globos oculares são vazados para permitir a colocação de olhos de vidro, como era praticado no caso das esculturas em bronze.

CABEÇA DE APOLO
Grécia, Magna Grécia, séc. III-I a. C.
Mármore, 34,0 x 27,0 x 28,0 cm

OS PERSONAGENS

A pintura representa Apolo, deus grego do sol e da música, e símbolo da razão humana, dirigindo sobre as nuvens o seu carro de ouro puxado por dois cavalos brancos. Na sua frente uma figura feminina precedida por crianças aladas vai jogando pétalas de rosa, simbolizando a luz da Aurora. Uma das crianças carrega uma tocha dissipando as trevas da noite. Atrás do carro de Apolo, voam outras duas figuras femininas aladas: uma delas levanta na direita uma lâmpada. Abaixo uma figura de homem idoso parece despertar descobrindo a cabeça enquanto se levanta. Poderia tratar-se de Titão, o velho esposo da Aurora, que a deusa deixa na cama ao amanhecer para espalhar a luz pelo mundo, como conta a mitologia greco-romana.

O QUADRO DA CASA MUSEU EVA KLABIN

A execução da pintura com pinceladas rápidas e áreas coloridas manchadas sem uma definição precisa das figuras, mas como buscando o equilíbrio da composição e dos valores cromáticos, a apresentação em escorço de baixo para cima e a inclusão dentro de uma moldura de perfis curvos mostram que o quadro é um esboço para a decoração do compartimento central de uma abóbada.

APOLO DIRIGINDO O CARRO DO SOL
Giovanne Francesco Barbieri, dito Il Guercino (1591-1666)
Roma, Itália, séc. XVII
Óleo sobre tela, 49,0 x 96,5 cm

METAMORFOSES DE OVÍDIO NA CASA MUSEU EVA KLABIN

 

A casa Museu Eva Klabin possui em seu acervo três pinturas que retratam cenas de poemas escritos pelo poeta romano Ovídio (43 a.C. – 17/18 d.C.) na sua obra prima Metamorfoses: Apolo e Dafne, Rapto de Europa e Galateia na beira do rio.

Em Metamorfoses, Ovídio deu novo acabamento literário aos mitos gregos que haviam sido aproveitados pelo Império Romano quando este conquistou a Grécia. Embora os personagens sejam mitológicos, o caráter de seus diálogos e contos são permeados por humanidade. O poeta narra os acontecimentos míticos mais importantes da mitologia greco-romana, além das transformações que dão nome ao livro: homens transformam-se em rios, em flores, em rochas; ninfas são transformadas em sons, deuses se transformam em pássaros.

O MITO DE APOLO E DAFNE

Apolo, deus romano da beleza, da música e da caça, desdenha do Cupido, deus do amor, filho de Vênus, e de sua capacidade como arqueiro. Cupido argumenta que, embora não use suas flechas para caça, nem mesmo os deuses são capazes de escapar de seu ferimento. Para provar o que disse, Cupido voa até o Parnaso, uma montanha perto da cidade de Delfos, na Grécia, onde se reuniam as ninfas, e ali encontra Dafne, filha do deus-rio Peneu (divindade atribuída aos rios da região da Tessália). Cupido então desfere suas flechas: a de ponta aguda e feita de ouro contra Apolo, e a rombuda de chumbo contra Dafne. Apolo então se
apaixona instantaneamente pela ninfa, mas esta lhe rechaça de todas as formas, recusando seus avanços. Cansada da perseguição, Dafne implora que o pai lhe ajude a escapar do seu infortúnio. Sem poder insurgir-se contra um deus, Peneu transforma a própria filha em um loureiro. Isso, entretanto, não diminui o ímpeto de Apolo. O deus decide, então, adornar-se com os galhos e as folhas do loureiro, em sinal de seu amor por Dafne.

O MITO NA CASA MUSEU EVA KLABIN

Conforme narrado por Ovídio, vemos, no alto da pintura de Silvestre, o responsável pela querela, Cupido, carregando as flechas do amor (de ponta aguda e
feita de ouro) e a do ódio (de ponta rombuda e feita de chumbo). Ele parece observar a cena convulsiva que se desenvolve abaixo dele. Vindos da direita para esquerda, em flagrante perseguição, Apolo, ostentando sua aljava, tenta agarrar a ninfa Dafne com o braço direito. Dafne, em gesto de extremo terror, afasta-se da tentativa, ao mesmo tempo em que olha para o pai, implorando por seu auxílio. Recostado em uma estrutura de características clássicas, Peneu estende a mão em direção à filha, como que atendendo seu chamado. Ele já ostenta uma coroa de louros sobre a cabeça, em antecipação ao seu gesto. Por fim, pode-se notar as mãos de Dafne, já iniciando sua metamorfose em loureiro, onde galhos e folhas crescem no seu lugar. Em um único quadro, de proporções medianas, Silvestre consegue a proeza de sintetizar um mito complexo, permeado de camadas e simbolismos.

APOLO E DAFNE
Louis Silvestre (1675-1760)
França, séc. XVII-XVIII
Óleo sobre tela, 78,0 x 67,0 cm

O mito Apolo e Dafne foi tema do primeiro vídeo da nossa série PARLA!, que mostra as histórias que as obras de arte trazem consigo.

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GALATEIA NA BEIRA DO RIO

Galateia, filha de Nereu e de Dóris, era uma ninfa do mar que amava o pastor Ácis. No entanto, Galateia também era amada pelo ciclope Polifemo. Um dia, enquanto pastoreava as suas ovelhas, Polifemo surpreende Galateia e Ácis no meio de um encontro amoroso, fato que o deixa inflamado de ciúmes. Fugindo do ciclope, Galateia vai em direção à água e Ácis corre em direção a uma floresta. Nesse momento, o ciclope arma-se com uma gigantesca pedra e arremessa-a em Ácis, que morre esmagado. Pesarosa com sua morte, Galateia então transforma o sangue do amado em um rio, fazendo da rocha a sua nascente. Acredita-se que o rio Ácis, aos pés do monte Etna, na Sicília, tenha esse nome por conta do mito.

O QUADRO DA CASA MUSEU EVA KLABIN

Galateia é representada despida, com adereço na cabeça, sentada sobre uma grande pedra. Braço esquerdo levantado, escondendo-lhe o queixo. Perna direita dobrada e envolta em um manto. E com o pé esquerdo toca a água do rio Ácis que nasce por baixo da pedra.

GALATEIA NA BEIRA DO RIO
Gabriel Metsu (1629 – 1667)
Óleo sobre madeira, 42,5 x 34 cm

O RAPTO DE EUROPA

Europa, filha do rei fenício Agenor, era amada por Zeus, que assumiu a forma de um touro e se misturou entre o rebanho, à espera da moça. Europa, encantada com o animal, acaricia seus pelos e sobe em suas costas. Aproveitando o descuido de Europa, Zeus parte com ela em direção ao mar, transportando-a para a ilha de Creta. Ali o deus revela sua verdadeira identidade e consuma seu desejo.

O MITO NA COLEÇÃO EVA KLABIN

A pintura da coleção Eva Klabin retrata o rapto de Europa já em pleno acontecimento. No centro da pintura vemos a ninfa Europa montada no grande touro, que é Zeus. Não vemos paisagem alguma no entorno da cena, apenas um vasto céu em tons de azul bem claro, indicando tempo bom. Abaixo, sob as patas do touro, vemos algumas ondulações em tons de azul mais escuro. É o movimento do oceano, que vai formando pequenas ondas, à medida que o animal vai se movimentando pelas águas. Pode-se reparar também na fina espuma de água que vem subindo da onda, em tom de branco, e que dá mais veracidade ao movimento da água. Vê-se também, na parte esquerda da tela, uma outra figura que não está presente no mito. É Tritão, filho de Posêidon, deus dos mares, e de Anfitrite. Reconhecemo-lo pela concha que leva à boca, como um instrumento de sopro. Diz a tradição clássica que Tritão preside sobre as regiões abissais dos oceanos, e que com o toque de sua trompa, em forma de concha, garante mares tranquilos para os navegantes. Europa, de expressão serena, porém triste, parece resignada com seu destino. Ela não sabe bem o que a espera no final dessa jornada. No meio do oceano, só com seus pensamentos, a ninfa parece ter certo consolo na companhia de duas outras ninfas que o pintor põe estrategicamente para criar uma atmosfera mais tranquila à cena.

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O RAPTO DE EUROPA
Luca Giordano (1626 – 1705)
Itália, séc. XVII
Óleo sobre tela, 88 x 118 cm

O MITO DO RAPTO DE HIPODÂMIA

Hipodâmia era filha de Atrax, filho do deus Peneu. Conhecida por sua incrível beleza, tornou-se noiva de Pirítoo, rei de Láptias, antigo povo da Tessália. Durante o casamento de Hipodâmia e Pirítoo, os Centauros – criaturas meio homem, meio cavalo -, não habituados a beber vinho, logo se embriagaram. Tomados pela luxúria e violência, tentaram raptar e violar a noiva, provocando a reação dos Tessálios e desencadeando uma grande batalha que ficou conhecida como Centauromaquia.

A OBRA DA CASA MUSEU EVA KLABIN

A bela peça da coleção Eva Klabin representa um grupo de três jovens tentando dominar o ímpeto de um centauro enquanto uma quarta figura (Hipodâmia) jaz no chão aparentemente ferida ou desmaiada. A base é tratada de forma naturalista com a representação da grama, de flores e vegetais, conforme a tradição da escultura Rococó. Um elemento desmontável em forma de árvore completa a composição.

HOMENS LUTANDO COM UM CENTAURO
Manufatura Capo di Monte
Napoles, Itália, 1775-1790
Porcelana branca vitrificada, 76,0 x 36,0 x 29, 5 cm

O MITO DE DIANA E ACTEÃO

Acteão era um príncipe da cidade-estado de Tebas, que passou um dia inteiro caçando com amigos, perto de uma gruta dedicada à Diana, deusa da caça, da fertilidade e dos animais selvagens. Vagando pela floresta, sozinho, ele chega à gruta de Diana e a encontra junto de suas ninfas, nua, preparando-se para banhar-se. Diana, furiosa, transforma Acteão em um cervo. Com medo, o príncipe foge da deusa furiosa, mas acaba sendo caçado e morto pelos seus próprios cães.

A CAIXINHA FABERGÉ

A caixinha da Casa Museu Eva Klabin, de autoria do famoso joalheiro russo Fabergé, é ilustrada com a imagem do quadro Diana saindo do banho, do pintor francês François Boucher (1703-1770). A imagem de Boucher alude especificamente à cena do banho, que preenche a maior parte da tela.

Clique aqui para ver o quadro de Boucher em exposição no Louvre.

BANHO DE DIANA
Fabergé (1846 – 1920)
Rússia, século XIX
Ouro esmaltado e incrustado de metal, 1,6 x 7,7 x 5,2 cm

O DEUS DA GUERRA

Marte é o deus romano identificado como Ares na mitologia grega. É filho de Júpiter e Juno.  Aparece em Roma como o deus da guerra, porém este não é seu único atributo. Também é conhecido como o deus da vegetação e guardião da agricultura. É o deus da juventude, porque a guerra é uma atividade própria da idade. É ele que “nas primaveras sagradas” guia os jovens que emigram das cidades para fundar outras novas e procurar novas residências.

A ESTATUETA DA COLEÇÃO EVA KLABIN

A estatueta foi realizada a partir de modelo do escultor belga Jean de Boulogne, que se instalou em Florença e se estabeleceu como artista da corte dos Médici, italianizando seu nome em Giambologna. A maquete foi realizada entre 1565 e 1570, mas a fusão, na opinião dos estudiosos, só se concretizou em 1577, por obra de Domenico Portigiani, um dos maiores colaboradores do artista. A escultura, pensada para ser vista livre no espaço, permite ao espectador perceber como o artista utiliza os traços do rosto e a pose da figura para traduzir a prontidão e a determinação marcial que caracterizam o deus da guerra. Todos os músculos da vigorosa anatomia estão tensos e os olhos fitam o inimigo, mas Marte detém o seu ímpeto e torce com força o corpo e o braço armado para trás, se preparando para o ataque. O Marte de Giambologna evidencia a habilidade do escultor na representação do movimento e seu domínio perfeito da anatomia.

MARTE
Giambologna (1529-1608)
Florença, Itália, 1565-1570
Bronze, 38,0 x 17,5 x 18,0 cm

AS DOZE SIBILAS

As sibilas são profetisas divinamente inspiradas que previam o futuro. Nos tempos anteriores à cristianização, os oráculos produzidos pelas Sibilas eram cuidadosamente guardados em Roma, no Templo de Júpiter Capitolino, e consultados apenas em momentos de grave crise. Consideradas frequentemente,
durante a Idade Média, como anunciadoras dos eventos da vida de Jesus Cristo, junto com os profetas do Antigo Testamento, as sibilas, cada uma tendo o nome de uma cidade ou de uma região do mundo então conhecido – na Europa, na Ásia e na África -, simbolizavam também a missão universal do Cristianismo, superando as religiões da antiguidade. Suas imagens tiveram particular difusão entre a segunda metade do século XV e a primeira do século XVI, devido à publicação impressa na Itália da obra Institutiones Divinae, de Lactancius (Subiaco, 1465) e de outra obra sobre as discordâncias entre os escritos de São Jerônimo e Santo Agostinho, publicada em 1481 pelo dominicano Filippo Barbieri, inquisidor na Sicília. Nesse livro, o número das sibilas, antes variável de seis a dez, foi fixado definitivamente em doze, correspondendo ao dos profetas judeus.

AS SIBILAS DA CASA MUSEU EVA KLABIN

As placas de metal esmaltado, representando as doze Sibilas, estão montadas em um único quadro, revestido de veludo vermelho. Cada placa retrata uma das Sibilas, representadas do quadril para cima, carregando o seu atributo característico e acompanhadas de cartela com inscrição que a identifica.

AS SIBILAS
Leonard Limousin (c. 1505-1577)
Limoges, França, primeira metade do séc. XVI
Metal esmaltado, 12,5 Ø cm

AFRODITE ADORMECIDA

O grupo representa Afrodite, a Vênus dos romanos, despida, reclinada em um leito e semicoberta por um longo manto que é suspenso por três figuras de crianças aladas, personificando Eros, o Amor. A figura feminina, adormecida, recosta-se languidamente em uma almofada, apoiando a cabeça na mão esquerda. As três figurinhas de Eros estão em atitude de voo, segurando as pontas do véu: a do meio carrega nas mãos uma coroa e uma fita. Durante a época helenística, com o surgimento de estados monárquicos que substituíram as antigas cidades livres, a cultura grega passou por profunda transformação: literatos, artistas e filósofos se concentraram na análise dos problemas ligados à vida interior do indivíduo e às suas escolhas morais. Assim como na poesia, na arte figurativa a representação dos mitos tornou-se uma oportunidade para introduzir temas da existência cotidiana, enfocando situações e sentimentos íntimos do coração humano como a dor, a paixão, o desejo. Afrodite e seu filho Eros, símbolos do amor e da fecundidade da natureza, passam a ter comportamento e intenções puramente humanos e a ser pretexto para exaltar as múltiplas facetas do erotismo e da beleza feminina. O grupo da Casa Museu Eva Klabin reúne, de forma relativamente rara, duas imagens que inspirarão posteriormente os artistas europeus do Renascimento e do Barroco: a de Eros, transformado numa criança marota, desvendando a nudez de Afrodite aos olhos dos mortais e coroando a mãe com uma guirlanda de flores, marco do poder da sua beleza entre todas as deusas.

AFRODITE E EROS
Grécia, Período Helenístico (séc. IV-I a. C.)
Terracota moldada e policromada, 19,0 x 22,0 x 9,2 cm