Fruto da parceria entre a Casa Museu Eva Klabin e o Instituto Inclusartiz, o programa de residência artística “ÉDEN chega a sua segunda edição com a exposição Ultramar”, da artista capixaba Kika Carvalho. A individual, que está em cartaz até o dia 25 de fevereiro,, reúne cerca de 20 obras — incluindo trabalhos inéditos —, entre pinturas, cianotipias, instalações e colagens desenvolvidas a partir da profunda pesquisa da artista sobre a cor azul e a sua função nas relações materiais, históricas e sociais ao longo dos séculos. A curadoria é de Lucas Albuquerque.


Eu produzi trabalhos específicos para esta exposição porque acredito que essa é uma oportunidade única de dialogar face a face com peças de uma cultura que contribuiu muito para a minha pesquisa e para o meu fascínio pela cor azul. É também uma ocasião oportuna para discutir sobre a história da arte e sobre a guerra de narrativas que cerca o deslocamento do Egito do continente africano. Quando pensamos nos feitos dos antigos egípcios, essa história se desloca daquele continente ou até mesmo do Planeta Terra, abrindo a possibilidade de extraterrestres terem contribuído com grandes feitos. Algo que me fascina muito”.

Kika Carvalho

 


A escolha do trabalho de Kika se dá justamente nesse lugar: possibilitar a revelação de dados inerentes ao seu interesse de pesquisa poética que por vezes se vê sublimado pela velocidade do cotidiano. Nesse sentido, o período de pesquisa junto à coleção tão rica instaura outros tempos, tanto de produção como de percepção, que a artista, por sua vez, visa a subverter em sua ocupação. Promover novas leituras não só do presente, mas também do passado, em um pensamento espiralar”.

Lucas Albuquerque – curador

O conjunto de obras selecionado pela curadoria para integrar Ultramar conta com trabalhos profundamente atravessados pela vivência da artista em Luanda, capital da Angola, onde participou de uma residência artística em 2022, sendo este o seu primeiro atravessamento Atlântico. Para esta exposição, Kika também preparou obras inéditas que refletem suas experimentações em outras técnicas para além da pintura, como a cianotipia e processos de fotografia analógica. Estes trabalhos propõem ainda um confronto entre a utilização simbólica da cor azul no Egito antigo e sua posterior valorização na imagem sacra cristã, por meio do diálogo direto com itens presentes no acervo da Casa Museu Eva Klabin.


Kika Carvalho
Vitória, ES, 1992. Vive e trabalha no Rio de Janeiro, RJ. Graduada em Artes Visuais (Licenciatura) pela Universidade Federal do Espírito Santo – UFES. Sua prática artística se materializa em diferentes suportes, técnicas e escalas, com uma pesquisa atenta em torno da cor azul, que pode estar relacionada tanto com as paisagens da cidade-ilha onde nasceu, como com aspectos da história da pintura. Sua obra é atravessada por questões ultramarinas de presença e ausência, tão caras à diáspora Atlântica. Sua produção também é entrecruzada por algumas experiências, como a prática de pintura urbana e a arte educação; além da participação em programas de residências artísticas, como: Angola AIR – Espaço Luanda Arte (2022); Outra Margem (2021); Vila Sul – Instituto Goethe de Salvador (2020);  e Malungas (2018), com a artista brasileira Rosana Paulino.



Lucas Albuquerque
São João de Meriti, RJ, 1996. Vive e trabalha no Rio de Janeiro, RJ. Bacharel em História da Arte pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro e mestre em Processos Artísticos pelo PPGARTES/ UERJ. É curador independente e pesquisador, tendo sido curador-organizador da Galeria Aymoré (Rio de Janeiro). Atualmente, é também curador do programa de residências artísticas do Instituto Inclusartiz, estabelecendo conexões com artistas, curadores e pesquisadores entre o Brasil, Reino Unido, Holanda, Espanha e França. Realizou a curadoria das exposições “Muamba: Brazilian Traces of Movement” (2023), na Ruby Cruel (Londres, U.K.); “O Sagrado na Amazônia” (2023), com Paulo Herkenhoff, e “Gamboa: nossos caminhos não se cruzaram por acaso” (2022), no Instituto Inclusartiz (RJ); “USTÃO” (2023), na Casa Museu Eva Klabin (RJ); “Futuração” (2021); e “Bordas da ausência” (2019), na Galeria Aymoré (RJ), além de outras individuais e coletivas.